quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Entidade [Associação Comunitária Sócio Cultural Kiriris]recebe quase R$ 1 milhão de verbas

Presidente da Associação Comunitária Sócio Cultural Kiriris, em Geru, relatou ter recebido apenas R$ 78 mil de convênios, de 2002 até 2012. Documentos oficiais revelam o repasse de R$ 989 mil.

     Doações das igrejas e mensalidade de R$ 200 do Sindicato Rural. Essas são as duas fontes de renda, da Associação Comunitária Sócio Cultural Kiriris, em Tomar do Geru, segundo o presidente da entidade, Pedro Silva Costa Filho – o Pedrinho Balbino, ex-prefeito da cidade e ex-deputado estadual. Após conversar com a reportagem pelo telefone, Pedro confirmou ter sido agraciado com alguns convênios estaduais, vindos da Fundação Aperipê. Mas isso, segundo ele, ocorreu há dois anos.
     Ele [Pedrinho] confirmou que, este ano, a ONG não recebeu nem sequer um centavo dos cofres públicos. Então, há algum equívoco, pois os documentos oficiais do TCE/SE mostram que, em junho de 2012, foi repassado aos caixas dessa ONG, pela Assembleia, o equivalente a R$ 167 mil. E os registros do Tribunal ainda revelam que, desde 2002 até hoje, a organização embolsou R$ 989 mil de verbas de subvenções da Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe – em um trecho desse período, Pedrinho estava deputado.

FANTASMA

     O CINFORM foi até o local constatar se a tal organização não governamental existia de fato. No endereço oficial, que está na Praça José de Anchieta como Associação Comunitária Sócio Cultural Kiriris, em Tomar do Geru, existe uma casa. O lugar em nada se parece com uma ONG. Praticamente deserto, é formado por um pequeno estúdio de rádio, um banheiro, um corredor e outros cômodos aos fundos, onde a reportagem não conseguiu entrar.
     Lá, funciona uma rádio comunitária e não uma ONG. Não há, nas salas da tal emissora, nenhuma recepção ou algo que lembre alguma organização não governamental. A casa está alugada para a Rádio Comunitária há mais de um ano. Uma funcionária, radialista, veio à porta atender.
     Ela disse que o presidente da Rádio aparecia esporadicamente, não soube relatar quais eram os trabalhos realizados pela ONG, tampouco se havia ou não alguma instituição naquele local. Afirmou, enfaticamente, que ali funcionava uma rádio e, tímida, chamou o colega de trabalho. O outro funcionário também relatou que, naquele local funciona um rádio. Também não sabia nada a respeito de associação e passou o celular do presidente da rádio, Pedrinho.

E-MAIL

      Ao ser procurado, ele solicitou que lhe fosse enviado um e-mail, para que pudesse melhor esclarecer quais são os trabalhos prestados à comunidade e quais foram os valores dos convênios firmados, no que foi atendido prontamente.
     Mas quando o item prestação de contas veio à baila, o presidente descreveu dois dos convênios, um de R$ 28 mil com a Fundação Aperipê, em 2010; e o outro, de R$ 50 mil, de verbas de subvenção da Assembleia Legislativa, em 2011. Em nenhum momento, ele mencionou R$ 989 mil recebidos até hoje pela instituição, de verbas de subvenção, como comprovam os registros do Tribunal de Contas.
    Pedrinho também não escreveu, no e-mail, os R$ 167 mil recebidos, este ano, da Assembleia, pela associação. Foram feitos diversos contatos com o responsável pela instituição, e esse, apressadamente, desligava o telefone, alegando que não conseguia ouvir direito.
    O quesito trabalho realizado também não foi bem-esclarecido. Pedrinho citou, pelo telefone, que a associação realiza diversos eventos culturais. Porém, ficou constatado ao chegar à sede da ONG, um cenário de vazio absoluto para quem diz prestar qualquer trabalho beneficente.

CARIDADE

     Falando como quem prestasse um enorme serviço à sociedade, ele, enfaticamente, expôs os problemas pelo quais a tal ONG vem passando. Reclamou que ninguém o ajudou, chorou bastante, argumentou que as despesas mensais da associação giram em torno de R$ 1.200 e que esse dinheiro serve apenas para pagar água, energia, internet, pois os funcionários da rádio comunitária são todos voluntários.
    'É difícil manter a entidade, porque não existe ajuda. De vez em quando um comerciante local dá alguma coisa. Quando existe ajuda, a associação promove eventos e também presta auxílio às comunidades carentes. Quando não existe esse tipo de ajuda, não existe serviço prestado", explicou o presidente. (Todos os grifos nosso)

FONTE:
CINFORM. Entidade recebe quase R$ 1 milhão de verbas. Aracaju, 17 dezembro de 2012. Especial grandes reportagens, p.7.
Fotos: Cinform

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